Confira a matéria publicada pela ASBRAER:
Extensão rural brasileira atrai a atenção do BID no Caribe
Com pouco mais de meio século de emancipação, boa parte dos países do Caribe enfrentam dificuldades na produção agropecuária. O setor é vital para a segurança alimentar das populações das ilhas, situadas entre as américas do Norte e Sul. Nesse cenário, o Brasil aparece como exemplo de desenvolvimento agrário e agropecuário, capaz de exportar seu modelo para aquelas pequenas nações, principalmente os serviços de assistência técnica e extensão rural. Esse entendimento abre possibilidades de criação de projetos-pilotos, que levarão extensionistas aos países demandantes pelos serviços de Ater.
No período da manhã, experiência brasileira foi tema de uma mesa redonda no Departamento da América Centra e Caribe, no Ministério das Relações Exteriores, com a participação do presidente da Asbraer, Júlio Zoé de Brito, e do diretor executivo, Hector Carlos Barreto, do presidente da Emater Minas Gerais, Marcelo Lana, e do gerente de Contratos e Convênios da Emater Distrito Federal, Blaiton Carvalho da Silva.
O encontro foi coordenado pelo ministro Nelson Antonio Tabajara de Oliveira, diretor do Departamento da América Central e Caribe, do Itamaraty, com a participação da diretora do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no Caribe, Carina Cockburn, interessada na experiência brasileira. Estava na reunião o chefe da Assessoria para Assuntos Internacionais e de Promoção Comercial do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Francesco Pierri, além de representantes da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), do BID no Brasil e em Washington.
O presidente da Asbraer, Júlio Zoé, destacou a capacidade dos serviços de Ater de colaborar com outras nações. A pluralidade de especialidades e experiências, devido à diversidade climática do país, permite a identificação de profissionais com experiência em condições semelhantes aos dos países que demandam uma parceria no campo da assistência técnica e extensão rural.
Conceitos e desenvolvimento
No entanto, segundo ele, há diferença entre os conceitos de assistência técnica e de extensão rural. “Se a minha tevê quebrar, chamo um técnico, ele conserta, não aprendi nada, mas o aparelho está consertado. Isso é assistência técnica. Mas eu não me apropriei do conhecimento”, disse ele, para enfatizar que a extensão rural é um pouco mais. “Ela faz com que ocorra a apropriação do conhecimento, e precisa ser permanente”, completou.
De acordo com Júlio Zoé, a extensão rural é uma política pública, possivelmente a mais importante, de inclusão do agricultor familiar em uma situação econômica mais digna. Por lei, é um processo de educação não formal, de caráter continuado. “No Brasil, ela tem um papel importante nos estados, mas não menos do que outras entidades não governamentais e empresas que fazem assistência técnica”, ressalvou o presidente da Asbraer. Mas lembrou de que desenvolvimento não é só aumento de produção, de produtividade e de renda. “É algo mais avançado. Entendemos a importância estratégica das entidades estaduais estarem à frente para levar o desenvolvimento. Mas se houver aumento de renda em um cenário no qual haja prostituição, tráfico de drogas, não tenho desenvolvimento, mas somente aumento de renda.”
Para o presidente da Asbraer, é preciso entender que não há uma receita para todo mundo. “Cada público tem a sua peculiaridade, uma realidade diferente, vive em condições climáticas também diferentes, e acumula saberes que precisam ser respeitados.” Em sua opinião, é fundamental associar a experiência e os saberes dos profissionais como os do grupo a ser atendido, a fim de que ele conheça as políticas públicas disponíveis pelo governo e, assim, com os técnicos e extensionistas, construa as condições para melhorar de vida.
“Temos clareza de que se a agricultura no Brasil ou em qualquer outro lugar não garantir renda, condições para que as pessoas se sintam felizes em trabalhar no campo, nenhum jovem vai querer continuar fazendo o que os pais fazem. Eles vão migrar para a periferia das cidades e o preço que a sociedade vai pagar por isso será muito elevado”, afirmou Júlio Zoé, ao expressar a sua esperança de a Asbraer, por meio das suas 27 associadas, poder contribuir para que países do Caribe e da África possam estabelecer serviços de assistência técnica e extensão rural sustentáveis, e que os governos tenham consciência da importância desse trabalho para a sustentabilidade da agricultura.
Segurança alimentar
Francesco Pierri, do MDA, afirmou que o Brasil confere muita atenção à agricultura familiar, responsável por 70% dos alimentos consumidos diariamente pelos brasileiros. Assim, há um conjunto de políticas públicas para esse segmento produtivo, que engloba, entre outras ações, programas de compras públicas, preço mínimo, seguro contra sinistros. Segundo ele, poder contar com essa vasta produção assegura ao país segurança alimentar e um instrumento de controle inflacionário, além de evitar o êxodo rural.
Ele lembrou que, com a eclosão da crise financeira mundial, em 2008, veio também a dos alimentos. O impacto no Brasil foi mais brando do que em outras nações. “Naquele momento, a nossa produção de alimentos aumentou e a pobreza continuou em declínio drasticamente”, disse Pierri, relacionando esse resultado positivo às políticas voltadas para o campo e ao crescimento exponencial da demanda por cooperação por outros países.
Depois de ouvir os participantes da reunião, a diretora do BID, Carina Cockburn, disse que o Caribe é uma região muito heterogênea, com diferentes necessidades de intervenções. No passado, os países, sob domínio inglês, produziam açúcar, banana, tabaco e rum. Passaram de uma economia colonial para a exploração do turismo, frente às belezas naturais. No entanto, a atividade turística está em declínio, com apenas 40% a 50% de ocupação da rede hoteleira. Assim, o Caribe passa por um processo de transição, o que torna a região uma das mais vulneráveis da América Central.
De acordo com Carina Cockburn, os caribenhos precisam interromper e reverter o exôdo rural, a fim de conter a criminalidade e violência, que afetam as economias locais. Em sua opinião, os investimentos em agricultura poderão ajudar na superação das dificuldades do Caribe.
Ver de perto
Na véspera da reunião no Itamaraty, na última terça-feira (25/9), a Asbraer, com apoio da Emater do Distrito Federal, acompanhou a comitiva do BID à Fazenda Larga, situada em Planaltina, no Distrito Federal. O intuito foi mostrar uma das experiências bem-sucedidas de agricultura familiar e os impactos positivos na vida da comunidade, além da qualidade dos alimentos produzidos com o auxilio da assistência técnica e extensão rural.
No encontro, à comitiva conheceu por meio de um cronograma apresentado pelo gerente do escritório da Emater em Pipiripau, Geraldo Magela, a história da fazenda e seu desenvolvimento desde 2003. Segundo o agrônomo, foram aplicados mais de R$ 1 milhão, entre Pronaf e outros créditos, para o desenvolvimento do assentamento.
Atualmente, a fazenda conta com 27 produtores de hortaliças, 115 estufas montadas, 25 produtores de maracujá e banana, 52 reservatórios de irrigação com criação de peixes para consumo das famílias e comercialização.
Segundo o morador da fazenda e agricultor familiar, Ailson Soares Santos, antes do encontro com a Emater ele trabalhava com lavoura, plantio de soja, milho e feijão em propriedades rurais de grandes produtores, hoje segundo ele, além produzir o seu sustento sua renda aumentou em 50%.
Durante a visita, os participantes da comitiva indagaram sobre a diversificação da produção agrícola daquela região, em vez de focar em apenas uma cultura. Questionaram também, se a partir de certo momento, o produtor se torna autossustentável sem precisar do auxilio técnico. Conforme o técnico da Emater, a variação dos produtos garante possibilidade de ganhos maiores, além de proteger o agricultor familiar de eventuais crises que acometem alguns produtos. Ele informou que a assistência técnica deve ser permanente, dada às novas tecnologias que surgem para auxiliar o agricultor.
Para a diretora do BID no Caribe, Carina Cockburn, o Caribe também tem territórios que precisam desse trabalho com pequenos agricultores, que não dispõem de assistência técnica. “Temos terras que tiveram outro uso e que agora estão sendo recuperadas justamente para este tipo de atividade rural. Então o que vi aqui, a tecnologia, a fórmula brasileira de recuperar a terra e obter produtividade. Isso é algo que pode ser transferido” disse a diretora.
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