Agricultores
familiares e extensionistas rurais lotaram na manhã desta terça-feira (27) o
auditório da Embrapa Cerrados, Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) localizada em Planaltina (DF), para acompanhar o
lançamento de seis cultivares de mandioca de mesa adaptadas às condições do
Distrito Federal e Entorno. Após 10 anos de pesquisa, em que os clones de
mandioca gerados e selecionados foram avaliados conjuntamente com agricultores
e extensionistas, a empresa lançou três cultivares de coloração da polpa da
raiz amarela (BRS 396, BRS 397 e BRS 399), uma cultivar com a coloração da
polpa da raiz creme (BRS 398) e duas cultivares com a coloração da polpa da
raiz rosada (BRS 400 e BRS 401).
Os trabalhos
de pesquisa foram conduzidos pela Embrapa Cerrados e Embrapa Recursos Genéticos
e Biotecnologia, em parceria com os produtores rurais, Emater-DF, Fundação
Banco do Brasil e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq). "Esse modelo de pesquisa participativa onde a pesquisa reconhece o
saber popular é fundamental para que a gente avance de maneira rápida e faça
aquilo que o produtor precisa. É uma grande satisfação pra nós estarmos
trabalhando nesse modelo que é uma referência para o Brasil", destacou o
chefe-geral da Embrapa Cerrados, José Roberto Rodrigues Peres. "Quando
esse arranjo institucional é feito temos a certeza que essa tecnologia vai ser
apropriada e que certamente será transformada numa inovação tecnológica",
enfatizou o presidente da Emater-DF, Argileu Martins.
Também
participou da abertura do evento o chefe-geral da Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia, José Manuel Cabral. Ele destacou, na ocasião, as características
funcionais dos materiais lançados, principalmente no tocante a teores mais
elevados de betacaroteno e licopeno. "Esses materiais estão muito
ajustados com uma linha de pesquisa de vem sendo desenvolvida na Embrapa há
bastante tempo que é aliar nutrição com a saúde e com a prevenção de doenças e
a biofortificação de alimentos", afirmou. Nessa Unidade da Embrapa, os
trabalhos forma conduzidos pelo pesquisador Luiz Joaquim Castelo Branco. O
gerente de Implementação de Programas e Projetos da Fundação Banco do Brasil,
Fernando Luiz da Rocha, também estava presente. A Fundação apoia o projeto
desde 2005.
Os
pesquisadores Eduardo Alano e Josefino Fialho, responsáveis pela condução dos
trabalhos na Embrapa Cerrados, fizeram um histórico sobre o cultivo da mandioca
no DF e repassaram informações sobre o projeto cujo título é "Avaliação
Participativa de Cultivares de Mandioca de Mesa no Distrito Federal e
Entorno". De 1975 a 1990, os principais problemas que afetavam a cultura eram
a baixa produtividade de raízes, a alta incidência de bacteriose e as
dificuldades no cozimento. Em 1991, foram introduzidas variedades especialmente
com resistência a bacteriose, o que proporcionou um salto de qualidade na
mandiocultura da região.
Mas, apesar da
melhora da qualidade das variedades disponíveis, o mercado exigia cada vez mais
qualidade do produto e os produtores também precisavam aumentar a rentabilidade
da lavoura, já que a média de produtividade no DF é de apenas 16 t/hectare.
Sendo assim, o trabalho de melhoramento genético buscava elevar a produtividade
das raízes, desenvolver cultivares com baixos teores de Ácido Cianídrico (HCN)
nas raízes, obter polpas de raízes amarelas ou rosadas (biofortificadas),
uniformes e com boa qualidade culinária - tempo de cozimento menor do que 30
minutos. Além de estabelecer parâmetros para agregação de valor ao produto,
como critérios de processamento mínimo. Durante o evento, a pesquisadora Maria
Madalena Rinaldi repassou algumas recomendações da pesquisa relativas ao
processamento mínimo de raízes de mandioca.
"Sabíamos
que nosso trabalho teria que atender as exigências do mercado produtor e
consumidor. Essas novas variedades passaram por testes preliminares dentro da
Embrapa Cerrados, mas tínhamos o desafio de avaliar esses clones
biofortificados junto aos produtores, foi quando lançamos mão dessa pesquisa
participativa. Ela não preconiza levar pacote tecnológico para o produtor, mas,
sim, um intercâmbio constante, uma troca de experiência entre o produtor, o
pesquisador e o extensionista", explicou o pesquisador Josefino Fialho.
Segundo o
pesquisador Eduardo Alano, para que a pesquisa participativa funcione, ela
precisa seguir alguns critérios: dispor de material genético para levar para os
produtores, ter produtores interessados em testar esses materiais, contar com
um mecanismo de extensão rural ágil e eficiente e, também, com um financiador
que acredite na ideia. "Ou seja, tínhamos todas as condições para que o
trabalho fosse executado de forma eficiente", ressaltou.
Ele explicou,
na ocasião, como a atividade de campo foi executada. "Depois de um
trabalho árduo de visita aos produtores de praticamente todos os núcleos rurais
do DF e entorno, selecionamos alguns deles para trabalharem com a gente",
contou. Após essa fase, segundo ele, foi feito em conjunto com os produtores o
plantio das novas variedades. E a cada dois meses, os pesquisadores visitavam
os locais para acompanhar o desenvolvimento da cultura. "Após a colheita,
eram feitas as avaliações finais. No final, sentávamos com os produtores e eles
ranqueavam as variedades, de acordo com a ordem de preferência de cada um
deles".
Ao final do
evento de lançamento, os interessados receberam amostras de manivas-sementes
das novas variedades. "Estava super ansiosa para receber esse material, já
planto mandioca, mas queria mesmo eram essas variedades, pois sei que produzem
mais rápido e tem uma boa saída", comemorou a agricultora do Núcleo Rural
Pipiripau, Maria Pereira da Silva, uma das pessoas que recebeu as amostras. Já
a intenção do agricultor Raimundo Lúcio da Silva, que fez parte do projeto de
seleção participativa, é de aumentar a sua área de cultivo de mandioca.
"Essa experiência foi muito positiva e fiquei extremamente satisfeito por
ter participado. Agora sei que só depende de mim e estou mesmo muito empolgado",
contou.
Serviço:
Os produtores
rurais interessados devem procurar o Serviço de Atendimento ao Cidadão da
Embrapa Cerrados para obter mais informações. Os contatos são (61) 3388-9933 ou
por meio do site www.embrapa.br/fale-conosco/sac
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